uma vez mamífera

… sempre mamífera.

Outra educação é possível

lousa
Estive hoje de manhã na escola das minhas filhas para a conclusão do semestre, que incluía a apresentação dos trabalhos desenvolvidos nos grupos de estudos, ateliês, feira de ciências e pesquisas individuais ao longo dos últimos meses.

Entre os temas de pesquisa, assuntos tão diversos quanto incrivelmente interessantes: de feminismo a vício em tecnologia, de hipopótamos e galinhas a parkour e dança, de gastronomia e culinária africana, passando pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, a piratas, ensino médio, rodovia e engrenagens, passando pela prisão de Alcatraz, pela realidade dos cidadãos em situação de rua e pela programação de jogos, entre outros temas igualmente ricos e curiosos.

Vimos vídeos, ouvimos músicas, lemos livretos confeccionados pelos estudantes ao longo de suas pesquisas, pudemos conversar com cada um deles, ouvi-los falar apaixonadamente sobre seus objetos de estudo, sobre tudo o que observaram, aprenderam, investigaram e deduziram em seus processos de autonomia e aprendizado.

Minha filha mais velha falou sobre feminismo. A do meio, sobre alimentação e agrotóxicos. A menor, sobre hipopótamos. Todas elas, cada uma em seu ritmo, a seu modo, dentro de suas possibilidades – e também indo além delas, num contínuo processo de amadurecimento e superação -, concluíram lindamente mais uma etapa de aprendizado nessa experiência fantástica que é a vida, na qual afinal não deixamos de aprender nunca (ou pelo menos não deveríamos).

Chorei diversas vezes. Emocionada, diante das minhas meninas e dos outros estudantes, cada um deles dotado de um brilho nos olhos que carece tanto na maioria dos alunos, diante de seus processos de aprendizado. Eles falavam com propriedade, com entusiasmo, com empolgação. Com amor. Quanto amor, em cada uma daquelas pesquisas. E não é afinal, o amor a energia vital que move o mundo (ou pelo menos deveria)?

Chamem-me romântica, idealista, ingênua, ou o que mais vier. Eu acredito que outra educação é possível. Eu acredito que podemos confiar nas crianças, nos adolescentes – confiar a eles as rédeas de suas próprias escolhas, deixar que tracem seus caminhos abrindo picada em uma mata por nós desconhecida. Se tivermos sorte, se soubermos estar ao lado deles como merecem, certamente nos estenderão a mão e nos convidarão, para que nos juntemos à caminhada. Se assim for, teremos tirado a sorte grande. Não tenho dúvidas disso.

Ao final do dia, como encerramento das atividades, tivemos uma “cerimônia de formatura” de três estudantes que, a partir do ano que chega, já não estarão mais conosco. Foi um lindo ritual. Palavras doces, emocionadas, divertidas, às vezes até exageradamente sinceras, foram sendo ditas pelos educadores e pelos demais estudantes, a cada um dos formandos. Seguiam-se risos, lágrimas, abraços.

Pensei em todas as cerimônias de formatura a que já estive presente. Muita pompa, muita circunstância. Longos rituais totalmente planejados, cheios de solenidade. Ali, não tínhamos solenidade alguma. Estávamos sentados em roda, alguns em cadeiras, no banco de madeira, ou mesmo no chão. Com as mesmas roupas de todos os dias. Crianças no colo, indo e vindo em meio a risadas e brincadeira. O tanque de areia bem ao lado, a jabuticabeira nos fazendo sombra. Sem pompa, sem circunstância. Com a simplicidade daquilo que fazemos com o coração, espontânea e indisciplinadamente.

Que sorte a minha, ter estado ali. Que sorte a nossa – minha, das minhas filhas, do pai delas – de estarmos juntos, ajudando a escrever essa história que se chama Politeia Educação Democrática.

Outra educação é possível, sim. Já está acontecendo. E que coisa bonita isso é.

#outraeducacaoépossível

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